A espiritualidade profunda de Robert Francis Prevost moldou o primeiro papa norte-americano da história, que aos 69 anos também se torna o mais jovem pontífice dos últimos 35 anos. Nascido em Chicago em 1955, Prevost surpreendeu o mundo ao ser eleito como papa após uma notável carreira que atravessou fronteiras – desde matemático a missionário no Peru, onde inclusive obteve cidadania peruana.
Além de sua formação em teologia pela União Teológica Católica de Chicago e direito canônico em Roma, o que é espiritualidade para o novo Papa Leão XIV transcende o conhecimento acadêmico. De fato, sua fluência em espanhol, francês e italiano, além do inglês nativo, reflete uma compreensão da espiritualidade e religiosidade que vai além das barreiras culturais. Acima de tudo, sua escolha do nome Leão XIV não é coincidência – representa um compromisso com a justiça social, ecoando o legado de Leão XIII, autor da encíclica sobre direitos dos trabalhadores. Neste artigo, exploramos como a espiritualidade e vida de Prevost o prepararam para esta missão histórica.
A eleição de Robert Prevost como Papa Leão XIV
Image Source: Los Angeles Times
“Habemus Papam” — Angelo Mamberti, Cardinal Protodiácono who announced the new Pope
Em 8 de maio de 2025, o mundo católico voltou seus olhos para o Vaticano quando a tão esperada fumaça branca subiu pela chaminé da Capela Sistina. O cardeal norte-americano Robert Francis Prevost foi eleito pelos seus pares para liderar a Igreja Católica, escolhendo o nome Leão XIV e marcando o início de um novo capítulo na história da instituição.
O momento do fumo branco
O fumo Branco surgiu às 18h07 (horário de Roma) ou 13h07 (horário de Brasília), no segundo dia do conclave, após a quarta rodada de votação. Depois de três votações com fumaça preta – uma na quarta-feira e duas na manhã de quinta-feira – os 133 cardeais eleitores finalmente chegaram a um consenso. Robert Prevost recebeu pelo menos 89 votos, o mínimo necessário de dois terços para ser eleito.
A notícia foi recebida com emoção pelos milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro. “Era meu sonho ver a fumaça branca e poder estar na praça neste momento importante para a Igreja e para a minha fé”, declarou Monica, uma peregrina mexicana, com lágrimas nos olhos. Enquanto isso, um padre colombiano expressou seu espanto: “Foi inesperado. Pensávamos que seria na última fumaça do dia, mas é assim que o Espírito Santo é: ele sopra quando quer e como quer”.
Primeiras palavras ao mundo
Exatamente 74 minutos após o fumo Branco, Leão XIV apareceu na varanda da Basílica de São Pedro. O anúncio formal do “Habemus Papam” foi feito pelo cardeal francês Dominique Mamberti. As primeiras palavras do novo pontífice foram: “A paz esteja com todos vós!”, uma saudação que estabeleceu imediatamente o tom de sua espiritualidade.
Em seu discurso, pronunciado em italiano e espanhol, o Papa enfatizou: “Gostaria que esta saudação de paz entrasse no vosso coração, chegasse às vossas famílias, a todas as pessoas, onde quer que se encontrem, a todos os povos, a toda a terra”. Além disso, prestou homenagem ao papa Francisco, mencionando sua “voz fraca, mas sempre corajosa” e pediu que todos se ajudassem “a construir pontes, com o diálogo, o encontro, unindo-nos todos para sermos um só povo sempre em paz”.
Reações imediatas da comunidade internacional
A escolha do primeiro papa norte-americano repercutiu rapidamente no cenário global. O presidente Lula expressou seu desejo de que Leão XIV “dê continuidade ao legado do Papa Francisco, que teve como principais virtudes a busca incessante pela paz e pela justiça social”. Vladimir Putin, por sua vez, manifestou confiança de que “o diálogo construtivo e a cooperação estabelecidos entre a Rússia e o Vaticano continuem a desenvolver-se”.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, parabenizou o novo papa e disse esperar que o Vaticano continue apoiando “moralmente e espiritualmente” Kiev. Enquanto isso, os ex-presidentes americanos Barack Obama e Joe Biden saudaram a eleição de seu compatriota, com Obama chamando-a de “um dia histórico para os Estados Unidos”. A União Europeia expressou esperança de que o pontificado seja “guiado pela sabedoria e força”.
Assim, a espiritualidade de Robert Prevost começou a se revelar ao mundo logo em seus primeiros momentos como Papa Leão XIV, marcados por apelos à paz e à construção de pontes entre os povos.
Raízes espirituais e formação religiosa
As raízes da espiritualidade de Robert Prevost foram plantadas no seio de uma família católica devota em Dolton, um subúrbio ao sul de Chicago. Nascido em 14 de setembro de 1955, ele é filho de Louis Marius Prevost, de ascendência francesa e italiana, e de Mildred Martínez, bibliotecária de origem espanhola. Esta combinação multicultural posteriormente influenciaria sua visão sobre espiritualidade e religiosidade.
Infância em Chicago e vocação agostiniana
Conhecido carinhosamente como “Bob” durante a juventude, Prevost cresceu como o caçula de três irmãos. Sua família representava a essência do sonho americano e praticava o catolicismo com notável devoção, frequentando missas diariamente. Inicialmente, estudou em escolas católicas e, em 1973, concluiu o ensino médio no seminário menor da Ordem de Santo Agostinho.
A vocação religiosa manifestou-se cedo. Enquanto muitos colegas reclamavam das missas em latim, Bob destacava-se por sua aceitação natural da liturgia. Em 1977, após formar-se em matemática pela Universidade Villanova, na Pensilvânia, ingressou no noviciado agostiniano em St. Louis. Fez seus primeiros votos em 1978 e os votos solenes em 1981.
Estudos em teologia e direito canônico
O significado da espiritualidade para Prevost aprofundou-se durante sua formação acadêmica. Em 1982, obteve mestrado em Teologia pela União Teológica Católica de Chicago e foi ordenado sacerdote em 19 de junho do mesmo ano. Posteriormente, aos 27 anos, foi enviado a Roma para estudos avançados.
Entre 1984 e 1987, dedicou-se ao Direito Canônico na Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino (Angelicum), onde obteve licenciatura e doutorado. Sua tese doutoral intitulou-se “O papel do prior local da Ordem de Santo Agostinho”, refletindo sua compreensão sobre o que é espiritualidade dentro da vida religiosa comunitária.
Missão no Peru e cidadania peruana
A verdadeira expressão de espiritualidade e vida ocorreu quando Prevost partiu em missão. Em 1985, enquanto preparava sua tese, realizou seu primeiro trabalho missionário em Chulucanas, Piura (Peru). Em 1988, retornou ao país andino, desta vez para Trujillo, como diretor de um projeto de formação para aspirantes agostinianos.
No Peru, serviu como prior da comunidade (1988-1992), diretor de formação (1988-1998), vigário judicial (1989-1998) e professor de Direito Canônico no Seminário de San Carlos e San Marcelo. Em 2015, enquanto bispo de Chiclayo, obteve cidadania peruana, consolidando sua conexão espiritual com o país que seria decisiva em sua jornada.
A trajetória pastoral que moldou sua visão
A trajetória pastoral de Robert Prevost revela como a espiritualidade moldou sua abordagem de liderança na Igreja. Diferentemente de muitos líderes religiosos contemporâneos, ele construiu uma visão baseada na experiência prática em múltiplos níveis da hierarquia eclesiástica.
Liderança na Ordem de Santo Agostinho
Em 1999, Prevost foi eleito prior provincial da Província Agostiniana de Chicago. Logo depois, no Capítulo Geral Ordinário da Ordem em 2001, seus confrades o escolheram como prior geral, posição que ocupou por 12 anos até 2013. Durante sua liderança, supervisionou uma comunidade presente em 50 países, demonstrando que sua compreensão sobre o que é espiritualidade transcendia fronteiras culturais.
“A autoridade que temos é servir, acompanhar os sacerdotes, ser pastores e mestres”, afirmava Prevost, destacando que “muitas vezes nos preocupamos em ensinar a doutrina, mas corremos o risco de esquecer que nossa primeira tarefa é ensinar o que significa conhecer Jesus Cristo”.
Atuação como bispo de Chiclayo
Em novembro de 2014, o Papa Francisco o nomeou administrador apostólico da diocese peruana de Chiclayo, sendo ordenado bispo em dezembro daquele ano. Nesta fase, sua espiritualidade e vida tornaram-se indissociáveis – durante a pandemia de COVID-19, por exemplo, saía às ruas para rezar com o povo.
Prevost enfatizava que “o bispo é chamado autenticamente para ser humilde, para estar perto das pessoas que ele serve, para caminhar com elas, para sofrer com elas”. Esta visão reflete sua profunda compreensão do significado de espiritualidade na prática pastoral.
Chegada ao Vaticano e influência no Dicastério para os Bispos
Em janeiro de 2023, foi chamado a Roma como Prefeito do Dicastério para os Bispos, tornando-se figura-chave na nomeação de novos bispos em todo o mundo. Certamente, como ele próprio reconheceu, sua “vida mudou muito”, oferecendo “a possibilidade de servir o Santo Padre, de servir a Igreja, da Cúria Romana”.
Sob sua liderança, o processo de seleção episcopal tornou-se mais inclusivo, valorizando a escuta de diferentes membros do povo de Deus. Seu perfil conciliador e acessível o tornou uma voz de confiança junto ao papa Francisco, demonstrando como a espiritualidade e religiosidade podem transformar estruturas institucionais.
O simbolismo do nome Leão XIV e sua mensagem
“O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa expressa a profunda alegria com que, em seu nome pessoal e em nome do povo português, saúda o Papa Leão” — Marcelo Rebelo de Sousa, President of Portugal
A escolha do nome papal nunca é aleatória – ela revela uma visão de **espiritualidade** e um programa para o pontificado. Quando o cardeal Robert Prevost surgiu na varanda da Basílica de São Pedro como Leão XIV, muitos especialistas em religião ficaram inicialmente surpresos pela combinação inusitada: um americano escolhendo um nome não usado há mais de 120 anos.
Referência a Leão I e Leão XIII
O nome evoca dois grandes pontífices que moldaram profundamente a história da Igreja. Leão I, conhecido como “O Grande”, destacou-se por repelir a invasão de Átila, o Huno, em 452 D.C., salvando Roma através da diplomacia. Este simbolismo de pacificação reflete-se no primeiro discurso de Leão XIV, quando pediu que todos se ajudassem “a construir pontes, com o diálogo e o encontro”.
No entanto, a referência mais significativa aponta para Leão XIII, que liderou a Igreja entre 1878 e 1903. Natalia Imperatori-Lee, especialista da Universidade de Manhattan, observa que esta escolha “significa realmente que ele vai continuar o trabalho de Leão XIII”. De fato, este papa foi pioneiro ao lançar as bases do pensamento social católico moderno através da encíclica “Rerum Novarum” de 1891.
Compromisso com a justiça social
A “Rerum Novarum” abordou corajosamente os direitos dos trabalhadores e o capitalismo no início da era industrial. Leão XIII criticou tanto “o capitalismo insensível como o socialismo centrado no Estado”, criando uma vertente de ensino econômico distintamente católica.
Portanto, ao escolher este nome, Prevost emite “um profundo sinal de compromisso com as questões sociais”, segundo Imperatori-Lee. Para dom Ricardo Hoepers, da CNBB, esta escolha também visa “retomar a doutrina social da igreja que tem como objetivo fundamental o diálogo entre as nações e o bem comum”.
Espiritualidade e vida: uma Igreja em diálogo
A espiritualidade e vida que Leão XIV propõe está intrinsecamente ligada ao diálogo. Em seu primeiro discurso, afirmou: “Necessitamos ser, juntos, uma igreja missionária, que constrói pontes e diálogos, que mantém um diálogo sempre aberto, pronta para receber todos que precisam da nossa caridade”.
Além disso, a Conferência Episcopal Portuguesa destacou que Leão XIV será “construtor de pontes para a paz e a justiça”, contribuindo “para o diálogo inter-religioso e para o diálogo com a sociedade”. Assim, sua espiritualidade se expressa como compromisso concreto com a fraternidade humana e a esperança.
Conclusão
Portanto, a eleição de Robert Prevost como Papa Leão XIV representa um momento histórico para a Igreja Católica e para o mundo. Sua trajetória espiritual, moldada tanto pela formação americana quanto pela experiência missionária no Peru, oferece uma perspectiva verdadeiramente global ao papado. Sem dúvida, sua escolha do nome Leão reflete não apenas uma admiração pela tradição, mas também um compromisso com a justiça social e o diálogo entre diferentes culturas e religiões.
A espiritualidade do novo pontífice, construída ao longo de décadas de serviço em diferentes funções eclesiásticas, manifesta-se em sua ênfase na humildade e na proximidade com os fiéis. Além disso, sua formação acadêmica em teologia e direito canônico, aliada à fluência em diversos idiomas, equipou-o com ferramentas essenciais para enfrentar os desafios contemporâneos da Igreja.
Finalmente, as primeiras palavras de Leão XIV ao mundo – “A paz esteja com todos vós!” – estabelecem o tom de um pontificado que promete construir pontes através do diálogo e do encontro. Acima de tudo, seu chamado para que sejamos “um só povo sempre em paz” ecoa a mensagem central de sua espiritualidade: uma fé que transcende fronteiras culturais e geográficas, buscando unir a humanidade em torno de valores compartilhados de compaixão, justiça e fraternidade.
FAQs
O Papa Leão XIV, anteriormente conhecido como Robert Francis Prevost, é o primeiro papa norte-americano da história. Nascido em Chicago em 1955, ele tem raízes multiculturais, com ascendência francesa, italiana e espanhola.
A escolha do nome Leão XIV simboliza um compromisso com a justiça social e o diálogo, evocando o legado de Leão XIII, conhecido por sua encíclica sobre os direitos dos trabalhadores e o pensamento social católico moderno.
Antes de se tornar Papa, Robert Prevost teve uma carreira notável que incluiu ser matemático, missionário no Peru, líder na Ordem de Santo Agostinho, bispo de Chiclayo e prefeito do Dicastério para os Bispos no Vaticano.
A espiritualidade de Leão XIV se manifesta em sua ênfase na humildade, proximidade com os fiéis e compromisso com o diálogo. Ele acredita em uma Igreja missionária que constrói pontes e está aberta a todos que necessitam de caridade.
Espera-se que o pontificado de Leão XIV seja marcado por um foco na justiça social, diálogo inter-religioso e construção de pontes entre diferentes culturas. Há também expectativas de que ele continue o legado de reforma e abertura iniciado pelo Papa Francisco.